quinta-feira, 24 de abril de 2008

Eu sei, é apenas um pequeno grão. Um quase-nada que nem quero pensar, mas o pensamento é nosso pedaço mais livre e vai e vem sem hora. Não insisto. É tudo assim, os pequenos desencontros que desenham uma estória. Nem desisto. Vou reescrevendo memórias, com uma saudade que não tem vontade de ser. E não será, por que só se é uma vez e o outro momento já é outra vida. Mas quem me dera chegar em casa e achar de presente um novo retrato, aquele que eu mais queria. Que vontade de começar uma outra caixinha de relíquias! Talvez nem tão grande, mas tão valiosa quanto a antiga. E outras riquezas. Espero. E solto as flores voantes do borboletário que há em mim que talvez se note. O que ouço é só mais uma canção, das tantas que me fazem criar as noites que não foram.

domingo, 20 de abril de 2008

Desvio. É tão fácil de acontecer, quase espontâneo. Um dia estou lá: acordo cedo, com preguiça de tantas coisas nas próximas horas, banho, secador, ônibus lotado e tem mais. Fico submersa, afogada pelo cotidiano. A rotina não me dá tempo pra sorrir, nem reparar. Mas sem querer, de repente eu reparo. Bastam alguns segundos de fuga insensata para que eu seja tragada pela superfície. Agora tenho ar, mas ar demais me deixa com a cabeça cheia de pensamentos e perguntas muitas. E é quando a palavra me chega e me foge, o sentimento invade.
O mundo é todo brisa e tempestade. A imprecisão se instala e eu tento criar distância e ao mesmo tempo proximidade, por que te ver é bom, mas só na maior parte do tempo. Afasto-me em silêncio, só para notar, surpresa, que andei em círculos e que você está outra vez a centímetros. E tão, tão longe. É como se você soubesse das minhas músicas.
Em sonhos, sou só alegria. É em apertos de mão inocentes e em olhares que se tocam por segundo que existe. Fora isso é vácuo. Não quero falar sobre quem não sou para me fazer entender, isso prometi para mim. Nem explicar metáforas.

sábado, 19 de abril de 2008

São olhos úmidos e de sonho que me encaram todos os dias no espelho. Nas manhãs, procuro uma brecha de céu azul ou cinza. Faz sol e vai chover. Às vezes é só pesadelo, às vezes é memória. Coisas distantes, de outras vidas em que era eu e também não era.
Os olhos da menina de cabelos tão negros e tão volumosos sorrindo no brinquedo do parque não são úmidos. São saltitantes, mas são de sonho. É estranho dizerem que ela sou eu. Pouco me vejo, pouco reconheço. O que nos liga é espaço e tempo e distância. É o ser e o sentir. É a fada do pacote de biscoito que não veio. A lembrança mais viva e o eterno quero-mais. Ela existe quando eu durmo, por que não tem muita diferença entre memória e sonho. É tudo imagem esfumaçada de um lugar onde não se pode pisar. E quando choro com ou sem lágrimas, com a cabeça encostada no vidro. E quando sou música. Poesia.
Vivo vidas que não são minhas. Pedi emprestado para não devolver. Culpa daquele aperto morno de quem diz que queria ser você e que tudo é pouco demais. É assim que me encontro e também a alegria. As horas que passo dentro de mim são horas de vida intensa. Quando sou um milhão de outros é que consigo ser eu.